terça-feira, 31 de março de 2009

Finalmente em Buenos Aires!!!

Desci do avião e finalmente toquei no chão argentino, era a primeira vez em minha existência que pisava em solo não brasileiro - e que pude ter o prazer de respirar o ar de Buenos Aires (finalmente!) - seria um momento mágico se não fosse um pequeno porém: a maldita fila da imigração! Como tinha demorado a descer da aeronave e pegado o final da fila, eu e meu pai tivemos que aguardar bastante no recinto, porém a espera foi suavizada por passarmos parte do tempo conversando com duas brasileiras que conhecemos no local. Após a delonga, finalmente chegamos no agente de imigração e passar por ele foi necessário apenas a identidade (como já dito a Argentina não exige o passaporte) e uma ficha pessoal que deveria ser previamente preenchida quando entregue no avião, mas como eu estava dormindo no momento da entrega, eu não havia recebido e tive que preencher na hora rsrsr (e atrasar mais a fila heheh).


Foto do Aeroporto Internacional de Ezeiza - Buenos Aires

Uma vez no aeroporto de Buenos Aires, já tínhamos uma idéia do albergue onde íamos ficar, mas ainda não sabíamos como ir, porém quanto a isso não restava outra opção: "taxi". Alternativa quase sempre meio cara, além do risco, já que taxista que faz viagem para gringo é igual a político, achar um que seja honesto é mais raro que encontrar gaúcho macho. Para dá uma suavizada no preço, o meu pai se encarregou de procurar pelo aeroporto as brasileiras que nós havíamos conhecidos (para dividir taxi, ou quem sabe, obtermos uma carona) e eu fiquei esperando na parte externa do aeroporto vigiando as malas.

Enquanto eu aguardava lá na parte de fora, batia uma certa sensação de insegurança, estava eu ali naquele país estrangeiro sem ao menos saber a língua do local, sempre dava aquela imprensão que se eu desse qualquer chance para perceberem que eu era um gringo - ainda mais sozinho no meio do nada - na primeira oportunidade iriam tentar me roubar ou passar a perna. Então fiquei parado ali, me apoiando nas malas e fiz uma cara de poucos amigos, enquanto curiosamente observava o local: a sensação de presenciar pela primeira vez várias pessoas conversando em um idioma diferente do seu - de forma tão natural - foi uma experiência memorável. Comecei a me sentir bem por está ali presente pela primeira vez em um país estrangeiro, o sentimento de insegurança aos poucos foi dando lugar a um sentimento de excitação.

Porém, desfrutando daquele êxtase, fui subitamente interrompindo: "Buenas tarde, caballero!". O susto repentino ao ser abordado por um estranho desconhecido fez com que eu voltasse a realidade, e junto com ela a sensação de insegurança de um gringo desamparado. Desconfiadamente olhei para quem me cumprimentava, era um senhor, de meia-idade, bem vestido e que se locomovia com auxílio de uma muleta apoiada no braço direito; demonstrava-se simpático e com desejo de aproximar-se. Ainda assustado, não pronunciei nenhuma palavra já que não queria deixar transpor minha vulnerável condição de estrangeiro, apenas dei um sorriso por educação e logo em seguida fiquei sério, evidenciando que não queria conversa e que desconfiava de suas possíveis más intenções.

Mas desafortunadamente minha reação não foi suficiente para fazê-lo com que desistisse de aproximar-se, ele continuou ali e apesar de eu fazer questão de não me expressar em nenhum momento (praticamente ignorando-o) ele começou a puxar assunto. A vontade maior era de evitá-lo a qualquer custo, mas depois passei a achar a situação engraçada: eu não entendia nada do que o velho tava falando e por isso eu ficava só confirmando com a cabeça, enquanto ele continuava e se empolgava conversando ali sozinho. Nesta primeira experiência percebir que o espanhol não é tão parecido com o português como eu acreditava, é quase imcompreensível quando a pessoa fala naturalmente, ou seja, rápido. Mas mesmo assim percebi que o velho não tava querendo dinheiro ou algo parecido (graças a deus), só que isso só me deixou ainda mais confuso para entender qual seria a real intenção dele no entanto. Fui sacar só depois de um tempo: era um suposto taxista (e tudo indicava que ele já tinha conversado com o meu pai e que tava ali me alugando só para não perder o cliente)

Fiquei mais tranquilo e finalmente resolvir falar algo. Apesar dele se esforçar, muitas vezes ele não compreendia bem o que eu falava, e eu também penava para entendê-lo, mas era agradável (e muito engraçado) ficar ali tentando se comunicar. Porém resolvi interromper as tentativas de diálogo quando ele começou a fazer muita pergunta de cunho pessoal e demonstrar interesse nisso, voltei ao precavido estado de desconfiança e comecei a demonstrar desinteresse na conversa. Novamente deixei o velho, e "suposto" taxista, falando ali sozinho. Quando ele se tocou, parou de falar, mas mesmo calado não desgrudou de mim, já que não queria perder o "suposto" cliente.

Retornei ao meu estado de observação, enquanto aguardava meu pai e tentava tolerar aquele homem suspeito parado do meu lado. No movimento de entra-e-sai do aeroporto, pude constastar um costume argentino bem curioso (e não tão masculino, diga-se de passagem... uhua): "homens se beijando". Calma! Antes de ter pensamento sujo e achar que tratava-se de um mega-encontro GLS no lado de fora do aeroporto, adianto logo que eram apenas beijinhos no rosto. Algo que é bem habitual aqui no Brasil quando encontramos amigAs ou conhecidAs, na Argentina também é comum você beijar amigOs ou conhecidOs, dois argentinos barbudos que sejam íntimos costumam dá beijinhos quando se encontram... Surpreendido, caro leitor? pelo jeito a semelhança entre os hermanos e os nossos amigos gaúchos - como citada em um post passado - é bem maior do que se imagina. Além do churrasco e do chimarrão, se assemelham até mesmo na "baitolagem" uahuauhua

Enquanto eu presenciava aquela cena não muito masculina de "hermanos" se encontrando e beijinho daqui e beijinho de lá (esses argentinos... sei não, hein?), o suposto taxista - que ainda insistia ali do meu lado - pediu emprestado a revista da Tam que estava no meu carrinho de bagagem e tentou usá-la recuperar a minha atenção. Ainda mantendo o estado de desconfiança, eu não dava bola enquanto ele folheava a revista e insistia em fazer alguns comentários para puxar conversa (eu nem compreendia direito o que ele falava), mas teve um momento em que eu tive que ceder: ele abriu a revista numa página em que tinha uma mulher em trajes atraentes e emendou a pergunta num tom de sarcasmo: "Te gusta, caballero?". Nessa hora eu vi que era meio arriscado ignorar mais um comentário: o bicho tá meia hora ali me "paquerando", faz uma pergunta muito interessado e além de tudo AINDA É ARGENTINO???!!! pô, meio "cor de rosa" essa parada, hein? A real intenção do velho parecia que finalmente ter dado as caras. Antes da coisa piorar pro meu lado, melhor era deixar bem claro pra "ele" que apesar de brasileiro eu não era nem um pouquinho gaúcho, e respondi com firmeza: "claro... si, si, me gusta mucho". Em seguida o velho soltou uns comentários incompreensíveis em espanhol que me forçou a fazer uma cara de "hã?", e ele se matou de rir. Na hora, eu não sabia se eu ria também ou se ficava sério porque o velho podia tá tirando com a minha cara... mas pelo menos deu para perceber que as intenções dele não eram tão "argentinas" quanto tinha dado a imprensão naquele momento... ufa!

Fiquei mais um tempo aturando aquele suposto taxista e meu pai finalmente apareceu. Apesar da demora, ele não tinha conseguido encontrar as brasileiras. Mas aproveitara aquele tempo para fazer algumas coisas úteis, como por exemplo ir na casa de câmbio trocar os reais por pesos argentinos, já que a moeda brasileira normalmente não é aceita no país de Maradona. Quando vi meu pai pegando as malas percebir que, como previsto, ele e o velho realmente já tinha tido um papo anteriormente. Carregamos as bagagens para o porta-mala do carro daquele senhor e adentramos o veículo. O carro dele não era bem um taxi, pois não tinha nem mesmo padronização! (a padronização oficial de taxi em Buenos Aires, como pude constatar posteriormente, é as cores amarela e preta, mas parecendo um carro de polícia).

Durante o percurso aeroporto-albergue, voltei àquela sensação de insegurança devido à vulnerabilidade de está sendo conduzido por um desconhecido dentro de um país igualmente desconhecido. Aquele suposto taxista teria me alugado durante meia-hora apenas para ganhar alguns trocados usurpando a função de um taxista formal ou tinha ele a intenção de ganhar bem mais de alguma maneira desonesta??? A tensão aumentou ainda mais nas partes em que o carro saiu da auto-pista e da parte moderna de Buenos Aires e passou por umas ruas obscuras, com jeito de favela. Apesar do velho conversar o tempo todo querendo demonstrar-se simpático, por um momento aparentou tratar-se de um sequestro ou semelhante. Mas graças a Deus, tudo ocorreu bem. Chegamos no alberque com segurança, o velho era apenas um taxista que trabalhava informalmente e um bom conhecedor dos atalhos e caminhos mais curtos de Buenos Aires. =)

Nenhum comentário:

Postar um comentário